sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Estive num hospital

UMA EXPERIÊNCIA MÍSTICA



‘procuro Deus! Procuro Deus?’ (Niezsche)

Prezado a gente, saudações!

Não é necessária uma lanterna, nem muito menos um mercado para sairmos à procura de Deus!

O que precisa?

Já lhe respondo. Só o ser humano, aquele de que você chamava de rio turvo, o qual passa pelas pedras e cai em milhares de abismos. Tem vida e tem morte. Recebe os outros, sejam bons ou não... enfim, esse que caminha sobre a terra, cheio do profundo e do raso; da correria e da mansidão; mas, principalmente de sopro e de água.

Ontem, eu estive em um hospital. Tem o nome de hospital da baleia. Sugestivo o nome, porque a baleia vive nas águas e necessita do sopro para manter seus pulmões. Mas, eu queria destacar o contato com o humano que pude ter. Você deve saber que encontrar com o humano é ver a fraqueza e a grandeza; é constatar o imanente e o absoluto de cada pessoa; é saber de cada necessidade, de cada fartura... Sim, eu vi o humano e procurei pelo divino, procurei pelo que há de melhor nessa vida, procurei pelo bem diante do mal e do sofrimento...

Eu vi olhos que choravam, eu vi as lágrimas da dor, eu vi um olhar que procurava descanso do sofrimento. Sim! Eu vi duas amantes em lágrimas. Ambas poderiam ser amiga, irmã, filha... uma talvez mãe... elas choravam as lágrimas da pessoa que ama, que não suporta ver a dor do(a/s) bem amado(a/s). Tive vontade de olhar para seus olhos, tirar suas lágrimas. Porém, como o divino, só era mais um ali. Eu estava lá, mas minhas mãos estavam atadas a minha falta de poder. Desejava ser herói, mas não passava de uma vítima. Suas lágrimas estavam caindo, como se fosse, em meus olhos. Contudo, meu olhar era só passageiro em suas histórias... Ah! Se você acredita que impossível ver o sofrimento, convido-o a ir até um hospital, como este que fui, e ver que o sofrimento tem rosto, tem olhos, tem boca... é em tudo como você, como eu...

Eu ainda ouvi as palavras que procuravam consolar... ouvi as orações dos sofredores... ouvi o gemido da dor... sim, eu tinha audição. Procurava encontrar as palavras certas, mas era vez de meus ouvidos e não de minha boca. Eu ouvi o que sofre dizer sua dor. Eu ouvi a humanidade ser só humana! Repito a afirmação quanto ao sofrimento: “se você acredita que o sofrimento não pode ser ouvido, então até lugares onde pessoas gritam pela dor e ouvirá o seu som. Sim, eu ouvi a voz do que socorre dizer que estava fazendo o que podia. Eu ouvi o medo da que partia. Para onde? Não sei, mas ela partia...

Eu era mudo... minhas palavras de nada adiantavam. Só estava lá! Falava, mas era tudo inútil... eu perguntava pelo sofrimento e o recebi – codificado em palavras. Minha filosofia, minha teologia, minha psicologia eram inúteis diante do Sofrimento. O que importava era ser médico, era saber curar... só os “curados” podem cuidar dos que não estão curados.

Deus, Jesus, Espírito Santo, a gente... onde vocês estavam? Em mim? Entretanto, minha pergunta permanece diante de seu poder... eu não sou onisciente, eu não sou onipotente, eu não sou onipresente... sou apenas humano! Condenado ao sofrimento, a dor, a morte. Tentava eu compreender porque viver o sofrimento...

Éramos nós apenas...

Eu ouvi outra resposta, ainda. Havia alguém que amava e desejava o bem, porém não queria mais ver o sofrimento do bem amado. Eu não entendo Deus e muito menos você, a gente! Eu me pergunto o porquê disso tudo. O sofrimento de onde veio? Porque está ai? Sim, ele está! Você e Deus já o viveram, mas não o solucionaram... Eu me tornei humano, mas não o suficiente para entender o sofrimento...

Diante disto, só me resta o caos que vivo nesse momento. Sim, caos! O sofrimento não pode gerar outra coisa, senão o caos do físico, do psíquico e do espiritual. Um tal de Zaratustra me disse uma vez que: “é preciso ter um caos dentro de si, para dar `a luz uma estrela cintilante”... então só me resta lhe anunciar, prezado “a gente”, “Saudades daquela estrela”!

JACKSON DE SOUSA BRAGA

Depois do “Hospital da Baleia”, 21 de outubro de 2011