quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Um dia na Praça...



Estar na praça, estar no momento de silêncio. Estar na história de minha vida. Estar em um banco. Ser mais um no mundo contando uma história, mas qual história? A história de minha vida, a qual vivo e conto a todo instante: estava como aquela criancinha que antigamente sentava-se na beirada da cadeira de seus avós para ouvir histórias e mitos que eles tinham para contá-la. Às vezes, ficavam até com medo, mas gostavam de ouvi-las. Gostavam de encantar-se com suas palavras. Eu me sentia nas duas situações. Deixei que fossem em mim suprassumida a criança e os avós. Lembrava-me das minhas experiências, histórias, momentos que vivenciei e vivencio até hoje.
Comecei a olhar para todos os locais que meus olhos podiam alcançar. Via o infinito, no tempo e no espaço, perdido. Coitado! Vagava como estas minhas palavras no papel. Sentia-me perdido em meio as inúmeras coisas. Pensei logo: “tenho que fazer algo! Mas, o que tenho que fazer?” Recebi só uma resposta: “Tem o nada, se é que possa tê-lo algum dia!” Mas, relutei e observei que já estava fazendo algo: “Ora, estou aqui sozinho, ouvindo-me, falando-me...
Não me veja como uma solipsista, pois não o sou. Estava experimentando ouvir as doce palavras que o amor podia me falar; dizendo ao amor que o amava de um modo desconhecido. Lançando os mais doces beijos ao amor, esperando que ele gozasse de tão maravilhosos momentos; amava ao amor; tocava-o com as mãos invisíveis de minha alma; sentia seu doce perfume, como era maravilhoso! A saudade batia em meu peito lembrando-se do sabor de sua boca e do gosto agradável de seus lábios.
Mas eu estava só! Via centenas de pessoas, mas faltava apenas o amor. Faltava o que eu apreciava. Desejei sentir suas mãos tampando meus olhos e tocando as lágrimas que caiam dos mesmos: “Surpresa! Por que chora?” iria lhe dar como resposta: “Sinto tantas dores! Já não suporto!” O amor sempre preocupado ousaria a dizer: “Não fique assim!” Minhas palavras iriam se encher de ira: “Como não quer que eu fiquei assim, queria você dentro de mim, habitando meu coração e tocando-o com sua presença! Sabe o que me dói? É saber que sofrer por amor machuca, mas sofrer sem ele é muito pior!” desejava um “sim, eu volto! Como antigamente, nos dias em que nos escondíamos nas praças de seu coração e ficávamos a nos deliciarmos dos frutos de nossa presença!” Mas, eu observei que estava lá novamente só e chorando.
Tudo não passava de um vazio completo! Via grupos de amigos deixando-se no vício de seus pulmões. Eles estavam caídos em suas tristezas e imersos no fingimento de seus sorrisos. Via meninas festejando sua própria vaidade, deixando-se cada vez mais imersas em suas fotos. Mas, faltava algo!
Via a mãe e amigas festejando em fotos com seu amor, mas aquele amor havia nascido daquela mãe e completava a ela e não ao meu coração, por isso continuava no vazio. Via trabalhadores se matando para conquistarem seus sonhos. Via uma mãe abraçando seu amor. Via um homem que muitos consideravam defeituoso se virando para mim e oferecendo alimento, mas eu não queria um alimento físico, eu queria um alimento afetivo. Sabia que só sua disponibilidade em me oferecer um alimento, já tinha um pouco do alimento que necessitava, mas não o tinha para me completar.
Parei de chorar e fui, então ao encontro de outra história. Não sei se será o que desejo ver, mas sei que é uma história infernal. Ainda bem que vou apenas vê-la e não vivê-la.

Jackson de Sousa Braga
Mariana, 28 de maio de 2009.